Gabriela, Cravo e Canela
Reler um autor que gostamos é sempre um prazer, reler Jorge Amado é uma redescoberta. Toda virada de página repleta de ambição, medo, paixão, e traição, sentimentos poderosos que dominam a estória de Gabriela e Nacib, e de todos os demais personagens desta trama, que sempre me prende do início ao fim.
A cada releitura, uma faceta sempre se destaca. Na adolescência, me impressionou a sensualidade que transborda das páginas; aos vinte e poucos anos, lembro de me revoltar com a violência praticada pelos coronéis numa terra sem lei; desta vez, foram as maneiras distintas como os personagens lidam com as mudanças em Ilhéus, e em suas próprias vidas, que mais prendeu minha atenção.
Mundinho Falcão é o agente externo que luta contra o status-quo, ele mesmo buscando mudanças pessoais. Coronel Bastos já não consegue se adaptar aos novos tempos, e ao “progresso” que chega a galope. Nacib muda por amor. Por amor ele muda suas expectativas de um dia casar-se com uma moça de boa família. Jorge Amado, em sua prosa brilhante, nos mostra a transição gradativa que sofre Nacib, pressionado tanto por sua atração por Gabriela, como pelo ciúme que sente. Quando finalmente ele decide casar-se com ela, passa a tentar mudá-la, transformá-la na moça de sociedade que ele pensava ser seu ideal de companheira.
Só Gabriela não muda. Ela segue a menina que brinca na rua; a adolescente cheia de vontades, que não gosta de ser contrariada; a mulher cheia de paixão, tanta que um só homem não sacia. Claro que Jorge Amado nos dá razões para a inabilidade de Gabriela em mudar e se adaptar, quando nos deixa saber um pouco mais da estória dela em suas reminiscências de infância. Mas eu, como leitora, me reservo o direito de vê-la como uma mulher indomável, que se recusa a ceder às pressões sociais, e leva sua vida de acordo com seus impulsos.