O Princípio de Pareto (80-20) aplicado a auto-promoção na Internet

Posted by Adriana Gomes on 06/09/2012 in Escrevendo |

Levei três anos para terminar um manuscrito de 150 mil palavras. Um agente americano me disse que era muito longo e sugeriu que eu editasse o manuscrito diminuindo o número de palavras drasticamente. Eu decidi quebrar a história em partes menores e estou trabalhando nelas. Enquanto faço isso comecei a pesquisar o desafiador mercado editorial americano na Internet, e descobri uma proposição surpreendente dos especialistas em mídia social: a regra 80-20, uma adaptação do Princípio de Pareto que afirma que escritores devem gastar 20% do seu tempo escrevendo e 80% se expondo na internet. Mesmo compreendendo a idéia por trás desta regra, eu não consigo segui-la. Quando me sento para escrever, a primeira coisa que preciso fazer é trabalhar no meu manuscrito.

Eu adoraria ser capaz de twittar várias vezes ao dia, e fazer entradas mais frequentes no facebook, onde todos os meus seguidores são amigos pessoais, e assim tentar fazer meus números crescerem. Mas eu tenho sonhos recorrentes onde meus personagens estão congelados no meio de uma ação com seus olhos se movendo como se estivessem procurando por mim. Quando eu os deixo sentados ou descansando, até que não fico tão agoniada, mas geralmente eu os deixo em meio a situações difíceis, e fico ansiosa para seguir logo com a estória e tirá-los do apuro.

Então, quando termino os afazeres do dia, e finalmente sento-me a frente do teclado, eu escrevo. Quando termino a seção de escrita, se der tempo, eu checo o twitter e/ou o facebook. Eu também gosto de ler diariamente, jornais e revistas, on-line ou impressos, eu ainda tenho assinaturas de revistas impressas, imagina só. Normalmente tenho um livro já lido pela metade e outro que acabei de começar. E eu tento escrever para o meu blog semanalmente. Ainda não sou uma autora publicada. Sou escritora, e sinto-me absolutamente abençoada pelo tempo que eu tenho para escrever. Para mim, escrever não é apenas gratificante, é essencial.

Imagine minha consternação, cada vez que leio um comentário de um especialista em mídia social, sobre a importância da regra 80-20 de auto-promoção para a carreira de um escritor. Felizmente deparei-me com um excelente artigo de Ewan Morrison do “The Guardian” – Why social media isn’t the magic bullet for self e-published authors, onde ele diz:

“A má notícia para as empresas de mídia social é que depois de todas as promessas e projeções, vêm as estatísticas, chegam as evidências, há consequências e cabeças deverão rolar. Em termos de publicação, recentemente descobriu-se que nos Estados Unidos 10% de todas as editoras de livros auto-publicados fazem 75% de todo o dinheiro; 50% dos livros auto-publicados ganham menos de 500 dólares por ano (aproximadamente 1.000 reais, ou R$ 2,74 por dia); e que 25% dos autores que se auto-publicam não conseguem recuperar os custos de produção. Em linhas gerais, o que isto significa é que, se você sair na rua todos os dias com um livro na mão e vendê-lo a um estranho por R$2,75, você ainda estaria ganhando mais dinheiro do que 50 % de todos os autores auto-publicados no site da Amazon e todos as outras novas plataformas para auto-publicação juntos.”

“Nota-se também que o mercado de e-book agora se parece muito com o modelo tradicional do mercado editorial. Um pequeno número de escritores fazem muito e todo mundo chafurda na crise de vendas minúsculas. A única diferença é que os de cima estão vendendo 100 mil cópias a R$2,74, ao invés de vendê-las a R$10,00 ou R$20,00 – o que em termos reais representa uma retração enorme do mercado. Além disso, significa a passagem da indústria editorial para as mãos de empresas de Internet que podem capitalizar sobre um milhão de vendas por um milhão de pequenos autores.”

Eu sou uma criatura de hábitos e a rotina me mantém produtiva e inspirada. Eu dedido cerca de 80% do meu tempo de trabalho a escrever, e 20% à Internet. E quando eu digo à Internet, eu estou falando em grande parte sobre meu blog. Aparentemente eu não sou uma boa candidata para a auto-publicação. Porém, como essas regras mudam o tempo todo, quem sabe. Por enquanto eu estou satisfeita em escrever, e estou me preparando para começar a enviar propostas para editoras e agentes. Mesmo porque, acredito que o mais importante é ter um manuscrito de qualidade. Não estou com pressa, afinal como o filósofo e poeta americano Ralph Aldo Emerson disse, “A vida é a jornada, não o destino.”

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