Empatia

Posted by Adriana Gomes on 17/10/2012 in Escrevendo with Comments closed |

Leio muito sobre como escrever melhor. A Internet está cheia de artigos sobre como criar diálogos mais envolventes, como inserir suspense na sua narrativa, qual a melhor forma de estruturar seu manuscrito, e recentemente foi-me oferecido um webinar chamado “A Física de uma Estória”, seja lá o que for isso. Há uma abundância de títulos criativos para artigos  sobre “como fazer melhor”, e livros de autoajuda para escritores. Acho tudo isso ótimo, juro. Sou agradecida pela infinidade de informação, facilmente acessível através da internet, que me ajuda no meu trabalho. Porém, a ferramenta mais importante que eu tenho como escritora, é minha empatia, minha conexão emocional com meus personagens.

De acordo com o dicionário Aurélio, empatia é uma forma de identificação intelectual ou afetiva de um sujeito com uma pessoa, uma idéia ou uma coisa.

Ou seja, empatia é, simplesmente, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Quando eu escrevo eu estou sempre me vendo no lugar dos meus personagens, do mocinho ao bandido. E quanto mais eu consigo me distanciar da minha própria realidade, e mergulhar profundamente no papel dos meus personagens dentro da trama, mais pura a minha empatia, e mais forte minha conexão.

Há muitas maneiras de ampliar a nossa capacidade de sentir empatia. Nós aprendemos através das nossas experiências pessoais, e da nossa exposição à vida. E não é de se estranhar, que leitores ávidos têm níveis superiores de empatia. Mas eu tive a oportunidade maravilhosa de viver em três países, em três continentes distintos. E posso atestar que não há nada como a total imersão em outras culturas, para ampliar nossas idéias, aumentar o nosso respeito por estilos de vida diferentes, e a nossa tolerância a pontos de vista opostos, e portanto, nossa empatia.

Não há nada como ver uma criança pequena sentada no meio-fio com fome em uma província chinesa distante, onde as únicas fontes de proteína são carnes exóticas e insetos, para compreendermos, e aceitarmos, que para essa criança seria um prazer comer carne de cachorro, se ela conseguisse ter acesso a um prato. Diante deste quadro a repulsa desaparece. Se você pudesse prepararia de bom grado uma suculenta perna de cachorro para ela. Mas como não tem nenhum cachorro por perto, você acaba oferecendo uma bolacha cheia de açúcar para a criança, que acabará por estragar os dentes dela, pois se ela não tem acesso a comida, tão pouco terá à escova de dentes e fio dental. Horas depois, quando você finalmente chegar de volta ao seu hotel, se sentirá impotente diante da dura realidade chinesa, e miserável por ter dado o doce para a criança. Assistir a um documentário sobre tais circunstâncias é uma coisa, ver de perto, cheirar, e tocar, é outra completamente diferente. Eu não estou escrevendo isso para fazer você se sentir mal, mas uma experiência como essa nos faz muito mais tolerantes a diferentes hábitos alimentares pelo mundo, sem mencionar mais dispostos a ajudar.

Escolhi este exemplo não só por ter me marcado, mas também porque me fez perceber que eu estava dessensibilizada pelas minhas próprias experiências crescendo no Brasil, onde durante meus anos de formação, vi muita pobreza e fome, até o ponto em que a miséria não me tocava mais tão profundamente. Quando vivia no Brasil, eu costumava ter sacos de pãezinhos, ou pacotes de bolacha no meu carro, e cada vez que eu parava num farol, se uma criança ou um mendigo pedia dinheiro, eu lhes oferecia comida. Cansei de ver, tanto crianças como adultos, jogando a comida que eu tinha acabado de dar na sarjeta. Eles queriam dinheiro, seja para drogas ou para bebida, ou para dá-lo ao dono da esquina que os havia levado para pedir esmolas. Saí do Brasil há quase quinze anos, e sei que a situação do país melhorou, mas também sei que ainda encontramos situações como as que descrevi nos bairros mais pobres das grandes metrópoles brasileiras.

Claro que a maioria dos pedintes agradeciam o alimento, e muitos pediam mais para levar para casa. Mas sendo extremamente honesta, a verdade é que eu estava tão acostumada a esses encontros diários, no meu caminho para a faculdade ou para o trabalho, que tudo parecia casual. Não há nada casual sobre a fome, e quando me deparei com ela fora do meu cotidiano, me vi chocada como quando era criança no Brasil, e queria que meus pais trouxessem todas as crianças que eu via pedindo na rua para casa conosco. Esta percepção do quanto eu estava anestesiada me trouxe de volta não só a sensibilidade ao desespero da pobreza e da violência, como me fez muito mais capaz de apreciar as minhas próprias bençãos. Não notamos como nosso ambiente nos transforma porque a mudança é gradual, e sem perceber vamos diminuindo nossa capacidade de empatia pouco a pouco.

Para evitar que esta letargia social volte a me dominar, tento manter minha cabeça aberta. Além das escolhas óbvias, tais como ler e viajar, também procuro dispor do pouco tempo estra que tenho para voluntariar, e estou sempre a disposição para ajudar os amigos. O bacana é que quando eu ajudo ao próximo, imediatamente recebo ajuda de volta. É uma troca, um pouco de meu tempo por uma melhor eu, e meu trabalho como escritora sempre se beneficia.

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Crítica Literária Personalizada e Paga

Posted by Adriana Gomes on 17/09/2012 in Escrevendo with Comments closed |

Experiência dolorosa, mas extremamente benéfica, onde um escritor paga a um agente, ou outro profissional experiente do mercado editorial, para que critique seu manuscrito.

Aqui nos Estados Unidos, quando atendemos a uma conferência de escritores, em geral podemos optar por ter parte de um projeto em andamento analisado por uma quantia módica. Afinal quem opta por este serviço, em geral ainda não tem nenhum trabalho publicado, e não pode pagar preços ostensivos. Somente o custo de atender a uma conferência destas já pode quebrar a banca.

Passei por este crivo, sobrevivi, e sai fortalecida. Que difícil ouvir sobre as limitações da sua criação. Este manuscrito está longo demais para a faixa etária; este trecho está complexo “demais”, maduro “demais”, jovens preferem ter apenas um ponto de vista no decorrer de uma estória; o mercado infantil de livros ilustrados está saturado de bichinhos falantes; cuidado para não antagonizar leitores potenciais com estereótipos negativos explícitos “demais”; este personagem me parece confuso “demais” sobre suas emoções; e assim por diante. Entre diferentes críticas personalizadas aos três projetos distintos que estou desenvolvendo já ouvi tudo isso, e obviamente meu maior problema são os “demais”.

Claro que não concordo com absolutamente tudo que ouvi, porém vários pontos importantes ficaram claros para mim, e estou revisando meus manuscritos respeitando certas demandas do mercado. Muitos dirão que a arte não deve ser moldada pelo “marketing”. Refleti muito sobre isso e penso que se quero que meu público alvo ouça a minha mensagem, tenho que falar sua língua. Meus momentos mais viscerais podem seguir ocultos.

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O Princípio de Pareto (80-20) aplicado a auto-promoção na Internet

Posted by Adriana Gomes on 06/09/2012 in Escrevendo with Comments closed |

Levei três anos para terminar um manuscrito de 150 mil palavras. Um agente americano me disse que era muito longo e sugeriu que eu editasse o manuscrito diminuindo o número de palavras drasticamente. Eu decidi quebrar a história em partes menores e estou trabalhando nelas. Enquanto faço isso comecei a pesquisar o desafiador mercado editorial americano na Internet, e descobri uma proposição surpreendente dos especialistas em mídia social: a regra 80-20, uma adaptação do Princípio de Pareto que afirma que escritores devem gastar 20% do seu tempo escrevendo e 80% se expondo na internet. Mesmo compreendendo a idéia por trás desta regra, eu não consigo segui-la. Quando me sento para escrever, a primeira coisa que preciso fazer é trabalhar no meu manuscrito.

Eu adoraria ser capaz de twittar várias vezes ao dia, e fazer entradas mais frequentes no facebook, onde todos os meus seguidores são amigos pessoais, e assim tentar fazer meus números crescerem. Mas eu tenho sonhos recorrentes onde meus personagens estão congelados no meio de uma ação com seus olhos se movendo como se estivessem procurando por mim. Quando eu os deixo sentados ou descansando, até que não fico tão agoniada, mas geralmente eu os deixo em meio a situações difíceis, e fico ansiosa para seguir logo com a estória e tirá-los do apuro.

Então, quando termino os afazeres do dia, e finalmente sento-me a frente do teclado, eu escrevo. Quando termino a seção de escrita, se der tempo, eu checo o twitter e/ou o facebook. Eu também gosto de ler diariamente, jornais e revistas, on-line ou impressos, eu ainda tenho assinaturas de revistas impressas, imagina só. Normalmente tenho um livro já lido pela metade e outro que acabei de começar. E eu tento escrever para o meu blog semanalmente. Ainda não sou uma autora publicada. Sou escritora, e sinto-me absolutamente abençoada pelo tempo que eu tenho para escrever. Para mim, escrever não é apenas gratificante, é essencial.

Imagine minha consternação, cada vez que leio um comentário de um especialista em mídia social, sobre a importância da regra 80-20 de auto-promoção para a carreira de um escritor. Felizmente deparei-me com um excelente artigo de Ewan Morrison do “The Guardian” – Why social media isn’t the magic bullet for self e-published authors, onde ele diz:

“A má notícia para as empresas de mídia social é que depois de todas as promessas e projeções, vêm as estatísticas, chegam as evidências, há consequências e cabeças deverão rolar. Em termos de publicação, recentemente descobriu-se que nos Estados Unidos 10% de todas as editoras de livros auto-publicados fazem 75% de todo o dinheiro; 50% dos livros auto-publicados ganham menos de 500 dólares por ano (aproximadamente 1.000 reais, ou R$ 2,74 por dia); e que 25% dos autores que se auto-publicam não conseguem recuperar os custos de produção. Em linhas gerais, o que isto significa é que, se você sair na rua todos os dias com um livro na mão e vendê-lo a um estranho por R$2,75, você ainda estaria ganhando mais dinheiro do que 50 % de todos os autores auto-publicados no site da Amazon e todos as outras novas plataformas para auto-publicação juntos.”

“Nota-se também que o mercado de e-book agora se parece muito com o modelo tradicional do mercado editorial. Um pequeno número de escritores fazem muito e todo mundo chafurda na crise de vendas minúsculas. A única diferença é que os de cima estão vendendo 100 mil cópias a R$2,74, ao invés de vendê-las a R$10,00 ou R$20,00 – o que em termos reais representa uma retração enorme do mercado. Além disso, significa a passagem da indústria editorial para as mãos de empresas de Internet que podem capitalizar sobre um milhão de vendas por um milhão de pequenos autores.”

Eu sou uma criatura de hábitos e a rotina me mantém produtiva e inspirada. Eu dedido cerca de 80% do meu tempo de trabalho a escrever, e 20% à Internet. E quando eu digo à Internet, eu estou falando em grande parte sobre meu blog. Aparentemente eu não sou uma boa candidata para a auto-publicação. Porém, como essas regras mudam o tempo todo, quem sabe. Por enquanto eu estou satisfeita em escrever, e estou me preparando para começar a enviar propostas para editoras e agentes. Mesmo porque, acredito que o mais importante é ter um manuscrito de qualidade. Não estou com pressa, afinal como o filósofo e poeta americano Ralph Aldo Emerson disse, “A vida é a jornada, não o destino.”

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Clarinha Paleontologista

Posted by Adriana Gomes on 23/08/2012 in Pérolas da Clarinha with Comments closed |

–       Mãe, quando eu crescer quero ser uma paleontolista.

–       Uma PALEONTOLOGISTA filha, por que?

Poucas crianças não curtem brincar na areia.

–       Ah mãe, por favor né! Eles ficam cavando na areia o dia todo, procurando por OSSOS DE DINOSSAUROS! Eu vi na TV. Este deve ser o trabalho mais legal que existe! E sabe o que mais? Você poderia viajar comigo ao redor do mundo, e enquanto eu brinco, quero dizer, trabalho na areia, você fica na sombra lendo seu livro. Como você faz quando me leva ao parque.

–       Não sei não filha, você pagaria pelas passagens aéreas e tudo o mais?

–       Claro, eu serei uma paleontolista exploradora rica e famosa. E você poderá escrever estórias sobre os lugares que a gente visitar juntas.

–       Gostei desta idéia Clarinha.

Paleontologistas em Trabalho de Campo

–       Assina aqui filha.

–       O que é isso mamãe?

–       É um contrato, caso você se torne uma paleontologista de sucesso e esqueça esta conversa.

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O Segredo de Frida Kahlo

Posted by Adriana Gomes on 20/08/2012 in Ficção, Romance Histórico |

Entre os objetos pessoais de Frida Kahlo descobertos na casa azul, onde ela viveu e morreu, havia um pequeno caderno de capa preta. Um presente de casamento de sua querida amiga, amante e alma gêmea Tina Modotti, a fotógrafa italiana comunista que apresentou Frida ao famoso pintor mexicano Diego Rivera. Neste caderno simples que Frida chamou de “Livro da Erva Santa”, ela escreveu memórias, piadas pessoais e suas receitas favoritas para o Dia dos Mortos. “Era para ser exibido pela primeira vez em uma exposição no Palácio de Bellas Artes. Mas no dia da abertura da exposição ao público, descobriu-se que o livreto havia desaparecido.”

F.H. Haghenbeck entrelaça habilmente os períodos mais importantes da vida de Frida com folclore mexicano e ficção para criar uma farsa deliciosa. Usando o clima político dos anos trinta e quarenta, a começar pela Revolução Mexicana como cenário, a narrativa abrange a infância de Frida, seu primeiro amor que a deixou após o acidente que quase a matou, seu tumultuado relacionamento com Diego Rivera; seu despertar artístico, sua evolução no mundo das artes plásticas, sua personalidade avassaladora, seu feminismo existencial, suas viagens aos EUA e Europa, seus encontros e romances com homens e mulheres notáveis ​​de seu tempo.

Nesta estória, além de Rivera, o relacionamento mais intenso que Frida tem é com “A Chorona”, a morte, uma presença constante lembrando-a através de sua dor que ela vive em “tempo emprestado”. Quando Kahlo morre pela primeira vez em um acidente de bonde, ela faz um pacto com “A Chorona”: para voltar a viver ela se compromete a preparar todos os anos no Dia dos Mortos os banquetes mais deliciosos. “Mas eu estou avisando,” diz sua nova madrinha, “você sempre desejará ter morrido hoje. E eu irei lembrá-la disso todos os dias de sua vida.”

Seu compromisso com o Dia dos Mortos, juntamente com o grande apreço que Rivera tem por iguarias mexicanas, são as principais inspirações para que Frida se torne uma cozinheira excepcional. E para ilustrar esta faceta dela cada capítulo termina com um trecho do “Livro da Erva Santa” incluindo uma receita. Eu não pude deixar de experimentar uma, e posso garantir que o Lombo ao Molho de Tequila é uma delícia.

Lombo ao Molho de Tequila

Sempre apreciei a arte de Frida Kahlo e admirei esta mulher que teve uma vida extraordinária, porém muito sacrificada. Não a vejo como a criatura obssecada por Diego Rivera da interpretação de Haghenbeck, mas desfrutei do livro como a obra de ficção que é.

O Livro Secreto de Frida Kahlo é uma reinvenção de sua história. Faz cinquenta e oito anos que ela morreu, no entanto sua vida e sua arte ainda capturam nossa imaginação. F. H. Haghenbeck escreveu um livro envolvente que prende o leitor até a última página.

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Gabriela, Cravo e Canela

Posted by Adriana Gomes on 09/08/2012 in Ficção, Romance with Comments closed |

Reler um autor que gostamos é sempre um prazer, reler Jorge Amado é uma redescoberta. Toda virada de página repleta de ambição, medo, paixão, e traição, sentimentos poderosos que dominam a estória de Gabriela e Nacib, e de todos os demais personagens desta trama, que sempre me prende do início ao fim.

A cada releitura, uma faceta sempre se destaca. Na adolescência, me impressionou a sensualidade que transborda das páginas; aos vinte e poucos anos, lembro de me revoltar com a violência praticada pelos coronéis numa terra sem lei; desta vez, foram as maneiras distintas como os personagens lidam com as mudanças em Ilhéus, e em suas próprias vidas, que mais prendeu minha atenção.

Mundinho Falcão é o agente externo que luta contra o status-quo, ele mesmo buscando mudanças pessoais. Coronel Bastos já não consegue se adaptar aos novos tempos, e ao “progresso” que chega a galope. Nacib muda por amor. Por amor ele muda suas expectativas de um dia casar-se com uma moça de boa família. Jorge Amado, em sua prosa brilhante, nos mostra a transição gradativa que sofre Nacib, pressionado tanto por sua atração por Gabriela, como pelo ciúme que sente. Quando finalmente ele decide casar-se com ela, passa a tentar mudá-la, transformá-la na moça de sociedade que ele pensava ser seu ideal de companheira.

Só Gabriela não muda. Ela segue a menina que brinca na rua; a adolescente cheia de vontades, que não gosta de ser contrariada; a mulher cheia de paixão, tanta que um só homem não sacia. Claro que Jorge Amado nos dá razões para a inabilidade de Gabriela em mudar e se adaptar, quando nos deixa saber um pouco mais da estória dela em suas reminiscências de infância. Mas eu, como leitora, me reservo o direito de vê-la como uma mulher indomável, que se recusa a ceder às pressões sociais, e leva sua vida de acordo com seus impulsos.

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Os Sete Pecados Mortais da Escrita – Painel do ThrillerFest 2012

Posted by Adriana Gomes on 16/07/2012 in Escrevendo |

Me interessei por livros de suspense durante a adolescência, quando descobri Agatha Christie e seu incrível personagem “Poirot”. E entre os vários gêneros que leio, este é sem dúvida um que me prende bastante. Mas além do gênero em si, adicionar suspense a qualquer estória faz bem à trama, e por isso, apesar de não escrever suspense, me vi lendo tudo que encontrei na internet sobre o ThrillerFest 2012.

Os Sete Pecados Mortais da Escrita

O ThrillerFest é uma conferência anual de autores, escritores, agentes, e entusiastas do gênero que atrai uma multidão de gente interessante a Nova York todo ano. Em sua sétima edição, a conferencia gerou uma coleção respeitável de artigos em blogs e websites sobre o gênero. E eu gostei muito de um painel com o tema: “Os Sete Pecados Mortais da Escrita”.

1 – Preguiça

Preguiça intelectual é algo que pode pegar qualquer autor, como por exemplo escrever o mesmo tipo de livro, e fazê-lo anualmente. David Hewson, autor britânico de romances policiais, incluindo a famosa série “Nic Costa” declarou: “Penso que devemos lutar contra a preguiça e nos desafiarmos constantemente.” Para escritores ainda não publicados, o exercício diário da escrita é essencial. Não devemos concluir o primeiro rascunho, e encerrar o dia. Eu tenho por hábito reler o que escrevi, e tomar notas do que preciso melhorar no dia seguinte.

2 – Tentar encaixar conceitos demais num manuscrito em detrimento da estória

Suspense é entretenimento, fatos demais podem emperrar a ação, o importante é manter o fluxo da estória interessante, acredita Lisa Gardner, autora de livros de suspense que chegou ao primeiro lugar na lista de bestsellers do New York Times com “The Killing Hour”.

3 – Seguir seu roteiro inicial muito de perto

De acordo com o autor do bestseller “Buried Prey”, John Sandford, enquanto preparar um roteiro para sua estória pode ser muito útil, segui-lo a risca pode fazer seu manuscrito rígido demais. Dê liberdade aos seus personagens e permita-se sair um pouco do plano original.

4 – Negar o ciúme

M. J. Rose, autora de “The Hypnotist” diz “tentar não sentir ciúmes dos trabalhos de outros autores”, quando de fato ela acredita que como escritores devemos nos permitir sentir toda gama possível de emoções. Eu, particularmente, fico encantada ao ver escritores se destacando, e acho que um pouco de competitividade faz muito bem.

5 – Foco exagerado no aspecto comercial

Sandford fala sobre alguns colegas que dedicam grande parte do seu tempo a promover seus livros já publicados, ao invés de escrever mais livros. Compreendo o ponto de vista dele, sem dúvida não se deve ignorar o lado comercial de uma publicação, mas o equilíbrio é essencial. Afinal um autor, é antes de tudo um escritor.

6 – Não ler livros

Ler é imprescindível aos escritores. M. J. Rose cita que 23% dos americanos dizem que gostariam de escrever um livro. Se todos eles lessem pelo menos dez livros por ano, todos nos beneficiaríamos. Escritores lêem.

7 – Imitação

Existe uma grande diferença entre ser influenciado por um livro e imitá-lo. David Hewson diz que tentar descobrir por que certas coisas funcionam e outras não, nos livros que lemos, pode ser uma grande ferramenta de aprendizado, mas devemos ser cuidadosos ao aplicar nossas observações.

Achei todos estes pontos válidos. Não sei se os considero pecados mortais, mas até aí, sou bastante liberal, e acho o conceito pecado mortal um tanto exagerado, coisa de livros de suspense mesmo.

“50 Tons de Cinza” leva a baby-boom nos Estados Unidos

Posted by Adriana Gomes on 12/07/2012 in Curiosidades with Comments closed |

Após uma ausencia de duas semanas, por conta de férias no Brasil, hoje, finalmente, sentei-me para escrever no blog. E não consegui evitar falar sobre o livro que vendeu 10 milhões de cópias nas últimas seis semanas, somente nos Estados Unidos, e que já está disponível no Brasil em pré-venda: “50 Tons de Cinza“.

Acredite se quizer, mas aparentemente, graças a trilogia erótica da inglesa E. L. James, as mulheres americanas andam sentindo mais intensamente o apelo de sua sensualidade, e nove meses depois que isso acontece, bebês nascem.

De acordo com o depoimento de várias grávidas no website americano BabyCenter.com, em breve as maternidades americanas estarão ajudando muitos bebês a vir ao mundo inspirados pelo romance risqué entre Christian e Ana. Podem chamar os livros de eróticos, de pornô para mães, ou simplesmente de best-sellers, seus efeitos sobre a libido feminina americana são inegáveis.

Os homens que inicialmente ridicularizavam a obsessão feminina coletiva, rapidamente passaram a apreciar os benefícios de ver suas mulheres devorando os livros, e em seguida, eles mesmos. Mulheres por todo país abraçaram suas deusas interiores, e agora, por consequência, estão se preparando para abraçar a maternidade.

Uma simples pesquisa de tendências no Google, mostra que buscas mencionando “grey pregnancy” (gravidez grey – sobrenome do personagem masculino principal da estória) triplicou nos últimos três meses. E espera-se que bebês chamados Christian a Ana liderem os registros de nascimentos de 2012. Me pergunto, porém, como essas mães explicarão aos filhos, onde encontraram inspiração para seus nomes daqui a dez anos.

A obsessão é tão grande, que a cientista inglesa Dr. Faye Skelton criou um retrato virtual do personagem por trás do fenômeno. Utilizando o mesmo software que policiais usam para fazer sketches de criminosos, ela se baseou na descrição de doze leitoras femininas para desenhar Christian Grey, o bilionário sadomasoquista  da série, que ela diz ter feito apenas por diversão. Com características de celebridades como Brad Pitt, David Beckham, Ryan Reynolds, Johnny Depp e até Steve McQueen, o resultado foi considerado pelas leitoras vagamente familiar, mas não particularmente atraente como o deus sensual descrito pela autora, que só nos EUA já vendeu mais de 20 milhões de cópias, e apenas nos últimos seis meses ganhou em torno de 50 milhões de dólares.

Christian Grey?

O primeiro livro da série será lançado no Brasil pela Intrínseca dia primeiro de agosto, e a editora espera ver a trilogia fazer aqui, o mesmo sucesso que fez na Inglaterra e nos Estados Unidos. Será que nove meses a partir de agosto teremos um pico no nascimento de Christians e Anas no Brasil também?

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Por que lemos?

Posted by Adriana Gomes on 27/06/2012 in Leitura |

Recentemente participei da “Cúpula Virtual da Publicação Digital”, uma conferência virtual, ou seja, uma conferência na qual você ouve os apresentadores pelos alto-falantes do seu computador, e digita suas perguntas para serem respondidas no final.

Foi uma experiência muito bacana, aprendi muito, mas não concordo com tudo o que ouvi. Principalmente o conceito de que lemos para escapar, ou prevenir dores. Esta idéia me deixou perplexa, não que talvez não toque num ponto interessante, mas a maneira como foi apresentada, como razão absoluta, me incomodou bastante. O palestrante, Sr. Jim Edwards disse: “As pessoas lêem ficção para escapar de dores, e não-ficção para evitar dores.”

O apresentador segue dizendo que ao ler ficção queremos esquecer a nossa realidade. E lemos não-ficção para: ganhar dinheiro; poupar dinheiro; economizar tempo; evitar esforço; ter sucesso; ser popular; sentir amor; e encontrar sucesso social. Durante aquela palestra tive a impressão de estar num seminário de auto-ajuda. É claro que eu leio livros para melhorar no meu trabalho ou, por exemplo, para aprender novas idéias sobre como ser mais organizada, mas eu prefiro abordar estas leituras sob uma perspectiva positiva.

Eu leio por prazer.

Acredito que lemos ficção por prazer, e não-ficção para aprender, e para nos mantermos atualizados. Uma pesquisa recente da Pew Internet realizada nos Estados Unidos, com 2.986 entrevistados de 16 anos para cima, concluiu que as principais razões pelas quais lemos são as seguintes quatro: por prazer, para acompanhar eventos atuais, para pesquisar sobre temas específicos que nos interessam; por trabalho ou estudo.

 

Razões básicas porque as pessoas lêem

Os entrevistados citaram uma variedade de motivos para a sua leitura, especialmente quando se trata de conteúdo em formato longo, como livros ou artigos de revistas. Apesar de pessoas diferentes citarem suas razões de maneiras distintas, todas puderam ser classificadas nas quatro categorias abaixo.
Os entrevistados mais instruídos, que foram à faculdade por pelo menos alguns anos, e mais ainda aqueles que vivem em famílias que ganham acima de 50 mil dólares por ano, são mais propensos do que aqueles com menor escolaridade e renda anual a ler por qualquer dos motivos levantados pela pesquisa:

• 80% dos entrevistados de 16 anos para cima dizem que lêem pelo menos ocasionalmente por prazer. As mulheres (84%) são mais propensas que os homens (75%) a citar este motivo.

• 78% dizem que lêem pelo menos ocasionalmente, para acompanhar eventos atuais. Esta razão é mais citada entre os entrevistados acima de 30 anos de idade.

• 74% dizem que lêem pelo menos ocasionalmente, para pesquisar temas específicos que lhes interessem. Entrevistados com menos de 65 anos são mais propensos a citar esta razão. A questão da idade está parcialmente ligada ao fato de, proporcionalmente, menos idosos estarem no mercado de trabalho. Os pais com filhos menores (80%) são mais propensos do que os não-pais (72%) a mencionar esta razão para sua leitura.

• 56% dizem que lêem pelo menos ocasionalmente, por trabalho ou estudo. Trabalhadores e estudantes dominam esta categoria, mas há algumas surpresas nos dados. Deste total, 23% dos trabalhadores em tempo integral dizem que nunca lêem nada relacionado ao trabalho ou ao estudo. Aqueles que têm níveis mais baixos de renda familiar e educação destacam-se nesse grupo dos que não lêem, nem por trabalho nem por estudo. Cerca de 50% dos trabalhadores em tempo integral dizem que lêem todos os dias, ou quase todos os dias, materiais relacionados aos seus empregos ou a escola; outros 16% lêem por trabalho ou estudo uma ou duas vezes por semana; outros 10% dizem que fazem essa leitura menos frequentemente do que isso. Os homens (58%) são mais propensos do que as mulheres (53%) a dizerem que lêem por razões relacionadas ao trabalho ou aos estudos. Os menores de 65 anos de idade são consideravelmente mais propensos a citar esta razão, em comparação com os idosos. Isto também está ligado ao fato de que, proporcionalmente, menos idosos estão no mercado de trabalho. E os pais (68%) são mais propensos do que os não-pais (48%) a dizer que lêem por este motivo.

Você pode ler mais sobre esta pesquisa clicando aqui.

 

Robert Penn Warren (1905 - 1989) Novelista e poeta americano, ganhador do Prêmio Pulitzer de ficção de 1947 por "Todos os Homens do Rei", e do Prêmio Pulitzer de Poesia em 1958 e 1979.

Considerando-se não-ficção os dados acima são bastante explícitos e satisfatórios, mas para ficção eu prefiro as palavras de Robert Penn Warren. Em seu ensaio para o “Saturday Evening Post Society” em 1986 “Por que ler ficção?”, ele escreveu, “Por que lemos ficção? A resposta é simples. Lemos porque gostamos. E gostamos porque a ficção, como uma versão da vida, estimula e gratifica nosso interesse por ela. Mas qualquer que seja o apelo de uma obra de ficção, o interesse imediato e especial que nos leva a ela é sempre nosso interesse por uma boa estória.”

E ele toca no âmago do prazer que eu encontro em ficção quando diz: “A ficção nos oferece uma versão aumentada da vida onde tudo é novo, e temos a oportunidade de desafogar de maneira desinibida a grande carga emocional – lágrimas, riso, ternura, empatia, ódio, amor, e ironia – que fica guardada dentro de nós, presa no circuito fechado do torpor cotidiano. Além disso, esta consciência aumentada pode ser plenamente desfrutada, pois o que em realidade seriam ameaças de grandes problemas ficam aqui restritos à mera imaginação, e porque algum tipo de resolução do dilema é, devido a própria natureza da ficção, garantido.”

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A Virada – O Nascimento do Mundo Moderno de Stephen Greenblatt

Posted by Adriana Gomes on 25/06/2012 in Não-ficção |

Resenha de Adriana Gomes

 

Leitura fantástica, mas prepare-se para ter suas crenças religiosas questionadas. Quem as questionou durante a Renascença pagou na fogueira. Desfrute, pois hoje em dia podemos ler um livro como estes sem o risco de sequer um chapisco. Pensar e questionar são luxos que foram conquistados para nós por pensadores corajosos, que no decorrer da história desafiaram o poder da Igreja Católica no ocidente, muitos inspirados por “Da Natureza”. “A Virada” narra esta evolução.

 

 

Stephen Greenblatt recebeu em abril o Prêmio Pulitzer de 2012 de não-ficção por sua obra “A Virada – O Nascimento do Mundo Moderno”. Em sua citação o Comitê do Pulitzer declara que “A Virada é um livro provocativo que argumenta que um trabalho de filosofia descoberto há 600 anos mudou o curso da história, antecipando os avanços científicos e a sensibilidade do mundo de hoje.

 

No inverno de 1417, provavelmente em um mosteiro alemão, o humanista italiano Poggio Bracciolini encontra um manuscrito em más condições, mas com seu grande conhecimento de latim e literatura clássica romana, ele reconhece o valor extraordinário do seu achado. Poggio imediatamente ordena que o manuscrito seja copiado, e então enviado a seu amigo e companheiro humanista Niccolò Niccoli em Florença, na Itália.

Apesar de sua grande apreciação pelo poema, Poggio enfatiza sua beleza e a extraordinária habilidade poética de Lucrécio, mas não aborda os valores epicuristas da obra. Este é o começo da Renascença, e a Igreja Católica está em pé de guerra contra qualquer ameaça aos seus dogmas; manifestar simpatia pelas idéias revolucionárias em “Da Natureza” é extremamente arriscado.

Como Greenblatt escreve, “nenhum cidadão respeitável diz abertamente: A alma morre com o corpo. Não há julgamento após a morte. O universo não foi criado pelo poder divino, e toda a noção de vida após a morte é uma fantasia supersticiosa”. Ainda assim Lucrécio influenciou durante toda a Renascença vários artistas, pensadores e cientistas com as idéias de Epicuro.

Ao falar sobre os átomos “Lucrécio, que não gostava de linguagem técnica, não usa o termo filosófico grego, mas afirma que tudo é composto de partículas invisíveis. Tudo é formado por essas sementes e, em caso de dissolução, retorna à elas no final. Imutáveis, indivisíveis e infinitas em número, elas estão em constante movimento, chocando-se umas com as outros, unindo-se para formar novas formas, desmoronando e recombinando-se novamente, eternas.

“A Virada” argumenta que “Da Natureza” mudou o curso da história, trazendo a filosofia epicurista de volta à luz. As cópias e traduções do livro inspiraram artistas renascentistas como Botticelli e pensadores como Giordano Bruno; moldaram o pensamento de Galileu e Freud, de Darwin e Einstein; e influenciaram escritores como Montaigne, Shakespeare e até Thomas Jefferson.

Apesar de “A Virada” ser um livro de não-ficção, a história da aventura de Poggio Bracciolini à caça de manuscritos raros pela Europa, tem em vários momentos a fluidez de uma obra de ficção. Leitura interessante e estimulante, porém se você não gosta de ver suas convicções religiosas questionadas, talvez este não seja um bom livro para você.

Duas semanas atrás, se alguém perguntasse qual meu livro favorito, eu teria dito “Memórias de Minhas Putas Tristes”, de Gabriel García Márquez. Se me perguntarem hoje, eu talvez responda “A Virada”, de Stephen Greenblatt.

 

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